lunes, 27 de septiembre de 2010

Mar português




Se o oceano não fosse
essa casa de Cabral
esse sal, que à água doce
trouxe às naus de Portugal

O movimento maior
que levanta o albatroz
num grito que deu a voz
à fala do Adamastor

Se o mar não fosse o caminho
das terras da nossa terra
que guerras teria a paz
que paz nos traria a guerra

Ai, se este mar não soubera
o que ninguém adivinha
que nova carta escrevera
o Pêro Vaz de Caminha

E as índias da nossa idade
no mais fundo da viagem
dão vice-reis da coragem
guerreiros da eternidade

Esse mar que Luíz Vaz
derrotou com um poema
mensagem que o tempo traz
porque tudo vale a pena

Há esse cântico negro
do mais régio dos encantos
de alma grande tão pequena
que nunca atrevera tanto

Fez-se ao mar a caravela
com panos de liberdade
e ao cheiro de outra canela
o reino fez-se cidade

Ai, se este mar não soubera
o que ninguém adivinha
que nova carta escrevera
o Pêro Vaz de Caminha
E as índias da nossa idade
no mais fundo da viagem
dão vice-reis da coragem
guerreiros da eternidade.

Fernando Pessoa

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